quinta-feira, 14 de setembro de 2017

A MODÉSTIA AINDA É NECESSÁRIA?


Vivemos num mundo onde o corpo é supervalorizado e muito exposto, tudo gira em torno da aparência. Homens e mulheres passam horas na academia definindo os músculos, se sacrificam com diferentes tipos de dietas, as clínicas de cirurgias plásticas estão cada vez mais movimentadas, tudo para ter o “corpo perfeito”. E claro, se gastam tanto tempo, energia e dinheiro para ter esse corpo, “precisam” exibi-lo para ser admirado.

Assim, falar em modéstia parece uma coisa ultrapassada, sem sentido, afinal todo mundo quer mostrar o corpo, sem qualquer restrição. Mas enfim, para que serve a modéstia? Qual o problema de “mostrar o que é bonito”?

Bom, a origem do problema vem lá do pecado original. Antes de pecarem, Adão e Eva estavam nus e não havia vergonha e nem necessidade de pudor. Seus instintos estavam perfeitamente ordenados e um olhava para o outro desejando apenas o bem do outro, amar e fazer o outro feliz. Com a desordem causada pelo pecado, a concupiscência entrou na história, e o olhar tornou-se a porta do desejo de usar o outro para seu próprio prazer.

Então, a fim de evitar despertar o desejo no outro de me usar, eu devo cobrir adequadamente o meu corpo, afinal nascemos para amar e sermos amados, e não usar e sermos usados. Quem usa e é usado certamente sente prazer, porém, no fundo, sente um vazio que não consegue explicar, uma sensação de que não serve para nada, que não é amado, que é apenas uma coisa sem valor. E aí entra no ciclo vicioso de procurar cuidar mais do corpo, para aparecer mais bonito, para então ser mais valorizado. Só que o verdadeiro valor não vem de fora, mas sim de dentro, da alma, do que a pessoa realmente é, do que ela pensa, do que ela sente.

Quanto mais se expõe o corpo, mais se esconde a alma. E nossa cultura precisa voltar a valorizar o que realmente é importante: o ser humano integral, corpo, alma, inteligência e afetos. Aqui a mulher tem uma responsabilidade enorme.  

O homem se excita mais com a visão e a mulher se excita mais com a audição. Sabendo disso, a mulher deve cuidar do modo com o qual se veste, para não despertar no homem o desejo de usá-la. Ela pode querer ser admirada (toda mulher tem esse instinto de querer atrair), porém, deve conduzir o olhar do homem para a beleza de sua alma e não apenas para seu corpo. Um conselho muito útil quando a mulher se arruma é se perguntar: com essa roupa vou chamar mais atenção para o meu corpo ou para o que eu tenho a dizer?

É uma questão de amor ao próximo, de caridade mesmo. Usar roupas muito curtas, transparentes, decotadas, mesmo que a mulher não tenha nenhuma intenção errada (e muitas realmente não tem), pode levar um homem a pecar. E seremos responsabilizadas por esse pecado!

O homem, nesse aspecto, precisa aprender a arte de desviar o olhar. É difícil, porque para quase todo lado tem uma mulher mostrando mais do que deve. Mas é preciso tentar, olhar para o outro lado (ou até para cima!), mudar o canal da TV, fechar a página da internet. Quanto mais evitar olhar, mais íntegro, mais puro se tornará. E a pureza atrai.

A modéstia serve para enobrecer, elevar a natureza, realçar a dignidade que todo ser humano tem. Assim, abrange não apenas a forma com que me visto, mas também minhas palavras e gestos, os lugares que frequento, como eu me divirto. Não adianta nada estar elegantemente vestido e quando abre a boca, só usa palavras de baixo calão, sensuais ou grosseiras.

Comportar-se com modéstia não significa que precisamos parecer uma pessoa vinda do século XVIII. A modéstia tem relação com a moda, com a época em que vivemos. Mas precisamos ser capazes de ir contra as modas “anticristãs” e adaptar o modo de vestir de acordo com a cultura onde vivemos. O modo como nos vestimos revela a mensagem que queremos passar para os outros. E a nossa mensagem, como cristãos, deve ser sempre uma mensagem de amor e preocupação com os demais.

Para quem está começando a se interessar por esse tema e procurando se vestir com modéstia, a dica é não desistir, procurar sites de moda modesta para ter uma ideia do que mais combina com você e continuar trilhando esse caminho, apesar das críticas que poderá receber. E saber que o exterior influi no interior e vice-versa: tanto se vestir modestamente torna uma pessoa modesta, como uma pessoa modesta se veste modestamente.

Terminamos com algumas orientações do Pe. Paulo Ricardo sobre esse tema: “Com efeito, o uso das roupas pode ser abusivo ou excessivo de três maneiras, a saber: 1.º) por excessiva solicitude, quando se gasta demasiado tempo, atenção ou dinheiro na procura por roupas e ornamentos elegantes; 2.º) por vaidade, quando se procura tão-somente atrair olhares e a admiração alheia; e 3.º) por lascívia, se o fim desejado é estimular a imaginação e a sensualidade de terceiros. Pode-se pecar também por defeito, e isto de dois modos: 1.º) se, por negligência, despreza-se a ordem e o cuidado devido ao corpo e a decência com que convém seja apresentado às pessoas; e 2.º) por vanglória, se o desalinho e a pobreza das roupas servem de pretexto para simular uma humildade falsa e hipócrita. Todos estes vícios podem ser combatidos se, ao nos vestirmos, tivermos em mente a humildade, a simplicidade e a justa diligência devidas ao cuidado externo, porque, ainda que simples e discretas, nossas roupas têm de ser limpas e minimamente bem cuidadas: "Conserva", recomenda São Francisco de Sales, "um asseio esmerado, Filotéia, e nada permitas em ti rasgado ou desarranjado. É um desprezo das pessoas com quem se convive andar no meio delas com roupas que as podem desgostar; mas guarda-te cuidadosamente das vaidades e afetações, das curiosidades e das modas levianas.”

photo credit: *ry* <a href="http://www.flickr.com/photos/32726536@N05/24130218356">Kate</a> via <a href="http://photopin.com">photopin</a> <a href="https://creativecommons.org/licenses/by-nc-sa/2.0/">(license)</a>

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