Vivemos num mundo onde
o corpo é supervalorizado e muito exposto, tudo gira em torno da aparência.
Homens e mulheres passam horas na academia definindo os músculos, se sacrificam
com diferentes tipos de dietas, as clínicas de cirurgias plásticas estão cada
vez mais movimentadas, tudo para ter o “corpo perfeito”. E claro, se gastam
tanto tempo, energia e dinheiro para ter esse corpo, “precisam” exibi-lo para
ser admirado.
Assim, falar em
modéstia parece uma coisa ultrapassada, sem sentido, afinal todo mundo quer
mostrar o corpo, sem qualquer restrição. Mas enfim, para que serve a modéstia?
Qual o problema de “mostrar o que é bonito”?
Bom, a origem do
problema vem lá do pecado original. Antes de pecarem, Adão e Eva estavam nus e
não havia vergonha e nem necessidade de pudor. Seus instintos estavam
perfeitamente ordenados e um olhava para o outro desejando apenas o bem do
outro, amar e fazer o outro feliz. Com a desordem causada pelo pecado, a
concupiscência entrou na história, e o olhar tornou-se a porta do desejo de
usar o outro para seu próprio prazer.
Então, a fim de evitar
despertar o desejo no outro de me usar, eu devo cobrir adequadamente o meu
corpo, afinal nascemos para amar e sermos amados, e não usar e sermos usados. Quem
usa e é usado certamente sente prazer, porém, no fundo, sente um vazio que não
consegue explicar, uma sensação de que não serve para nada, que não é amado,
que é apenas uma coisa sem valor. E aí entra no ciclo vicioso de procurar
cuidar mais do corpo, para aparecer mais bonito, para então ser mais
valorizado. Só que o verdadeiro valor não vem de fora, mas sim de dentro, da
alma, do que a pessoa realmente é, do que ela pensa, do que ela sente.
Quanto mais se expõe o
corpo, mais se esconde a alma. E nossa cultura precisa voltar a valorizar o que
realmente é importante: o ser humano integral, corpo, alma, inteligência e
afetos. Aqui a mulher tem uma responsabilidade enorme.
O homem se excita mais
com a visão e a mulher se excita mais com a audição. Sabendo disso, a mulher
deve cuidar do modo com o qual se veste, para não despertar no homem o desejo
de usá-la. Ela pode querer ser admirada (toda mulher tem esse instinto de
querer atrair), porém, deve conduzir o olhar do homem para a beleza de sua alma
e não apenas para seu corpo. Um conselho muito útil quando a mulher se arruma é
se perguntar: com essa roupa vou chamar mais atenção para o meu corpo ou para o
que eu tenho a dizer?
É uma questão de amor
ao próximo, de caridade mesmo. Usar roupas muito curtas, transparentes, decotadas,
mesmo que a mulher não tenha nenhuma intenção errada (e muitas realmente não
tem), pode levar um homem a pecar. E seremos responsabilizadas por esse pecado!
O homem, nesse aspecto,
precisa aprender a arte de desviar o olhar. É difícil, porque para quase todo
lado tem uma mulher mostrando mais do que deve. Mas é preciso tentar, olhar
para o outro lado (ou até para cima!), mudar o canal da TV, fechar a página da
internet. Quanto mais evitar olhar, mais íntegro, mais puro se tornará. E a
pureza atrai.
A modéstia serve para
enobrecer, elevar a natureza, realçar a dignidade que todo ser humano tem.
Assim, abrange não apenas a forma com que me visto, mas também minhas palavras
e gestos, os lugares que frequento, como eu me divirto. Não adianta nada estar
elegantemente vestido e quando abre a boca, só usa palavras de baixo calão,
sensuais ou grosseiras.
Comportar-se com
modéstia não significa que precisamos parecer uma pessoa vinda do século XVIII.
A modéstia tem relação com a moda, com a época em que vivemos. Mas precisamos
ser capazes de ir contra as modas “anticristãs” e adaptar o modo de vestir de
acordo com a cultura onde vivemos. O modo como nos vestimos revela a mensagem
que queremos passar para os outros. E a nossa mensagem, como cristãos, deve ser
sempre uma mensagem de amor e preocupação com os demais.
Para quem está
começando a se interessar por esse tema e procurando se vestir com modéstia, a
dica é não desistir, procurar sites de moda modesta para ter uma ideia do que
mais combina com você e continuar trilhando esse caminho, apesar das críticas
que poderá receber. E saber que o exterior influi no interior e vice-versa:
tanto se vestir modestamente torna uma pessoa modesta, como uma pessoa modesta
se veste modestamente.
Terminamos com algumas
orientações do Pe. Paulo Ricardo sobre esse tema: “Com efeito, o uso das roupas pode ser abusivo ou excessivo de três
maneiras, a saber: 1.º) por excessiva solicitude, quando se
gasta demasiado tempo, atenção ou dinheiro na procura por roupas e ornamentos
elegantes; 2.º) por vaidade, quando se procura
tão-somente atrair olhares e a admiração alheia; e 3.º) por lascívia,
se o fim desejado é estimular a imaginação e a sensualidade de terceiros.
Pode-se pecar também por defeito, e isto de dois modos: 1.º) se, por negligência,
despreza-se a ordem e o cuidado devido ao corpo e a decência com que convém
seja apresentado às pessoas; e 2.º) por vanglória, se o
desalinho e a pobreza das roupas servem de pretexto para simular uma humildade
falsa e hipócrita. Todos estes vícios podem ser combatidos se, ao nos
vestirmos, tivermos em mente a humildade, a simplicidade e a justa diligência
devidas ao cuidado externo, porque, ainda que simples e discretas, nossas
roupas têm de ser limpas e minimamente bem cuidadas: "Conserva", recomenda
São Francisco de Sales, "um asseio esmerado, Filotéia, e nada permitas em
ti rasgado ou desarranjado. É um desprezo das pessoas com quem se convive andar
no meio delas com roupas que as podem desgostar; mas guarda-te cuidadosamente
das vaidades e afetações, das curiosidades e das modas levianas.”
photo credit: *ry* <a href="http://www.flickr.com/photos/32726536@N05/24130218356">Kate</a> via <a href="http://photopin.com">photopin</a> <a href="https://creativecommons.org/licenses/by-nc-sa/2.0/">(license)</a>
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