segunda-feira, 10 de novembro de 2014

DEIXAR-SE CONHECER

Conhecidos os temperamentos de cada cônjuge, o próximo passo para que se realize a união dos dois é o “deixar-se conhecer”: marido e esposa precisam abrir-se ao outro, revelar o que passa dentro de si, seus anseios, sonhos, necessidades, dúvidas, enfim, o seu “ser”. Somente através do conhecimento profundo do outro é que a união se torna possível.
O conhecimento do outro só é possível através do diálogo. “Diálogo é o encontro pessoal e personalizante entre duas ou mais pessoas.”[1]Assim, para existir o diálogo é necessário que haja um encontro pessoal com o outro, ou seja, reservar um tempo para estar com seu parceiro e então poderem estabelecer esta comunicação.
Para haver realmente a comunicação aberta entre os cônjuges é necessária uma atitude de profundo respeito pela personalidade do outro, uma vontade firme de buscar este conhecimento e também de deixar-se conhecer, uma abertura ao outro, a aceitá-lo como ele é, com suas capacidades e imperfeições, como obra-prima do Criador.
Deve-se ressaltar, porém, que esta abertura ao outro tem um certo limite, o chamado “mistério da personalidade”.
“Em toda pessoa há uma riqueza profunda que não pode ser esvaziada. Nós falamos do sacrário do coração, sacrário da alma, aquele último cantinho que pertence somente a Deus. (...) Mantenho, então, um mínimo de reserva, um mínimo de interioridade: não me descrevo totalmente por dentro senão que deixo sempre algo que no fundo se entrevê. (...) É aos poucos, por conseguinte, que descubro esta grandeza, algo do que há de Deus no tu. Tenho que aprender a descobrir, a olhar o outro, o tu, com o olhar de Deus à luz da fé. Assim, vou descobrindo cada vez algo mais interessante e me vou enamorando cada vez mais. (...) Devemos ter cuidado com o que um revela para o outro, seja na ordem da miséria ou da grandeza pessoal. Podemos revelar só em parte; o mais íntimo e o mais profundo de minha oração e de meu encontro com Deus, sempre permanecerá um mistério para o outro. (...) Há coisas que pertencem à comunidade conjugal e coisas que são pessoais. O que é conjugal, o que é da comunidade, deve se dizer sempre. Por exemplo, se há problemas econômicos, o marido não irá inquietar a mulher com esses problemas, porém informa-a de tal maneira, que ela saiba em quem carro está andando. Todavia, há outras coisas que são estritamente pessoais, e o limite entre o conjugal e o pessoal é diferente para cada pessoa e para cada casal.”[2]
Existe uma grande diferença entre conversar e dialogar. Na conversa, as pessoas falam de algo que não lhes dizem respeito diretamente e refere-se a fatos exteriores que não as envolvem pessoalmente, transmitindo apenas informações, como, por exemplo falar de outras pessoas, ou de acontecimentos gerais, sobre o clima, etc.
No diálogo, todavia, existe uma comunicação do que se passa no interior da pessoa, o que ela sente, como ela pensa a respeito de determinado assunto, o que gosta ou não gosta, quais são seus sonhos, alegrias, projetos, etc.[3]
Portanto, na família deve se procurar sempre o diálogo como forma de conhecer o outro, de saber o que pensa, como pensa, pois somente o diálogo pode proporcionar este conhecimento. As conversas sempre existirão, porém, é aconselhável tentar transformar as simples conversas em diálogos, extraindo da mera comunicação dos fatos o que o interlocutor pensa a respeito dos mesmos.
Todos possuem a necessidade de serem compreendidos e valorizados. A compreensão é uma forma de aceitação do outro como ele é, com toda sua originalidade. E a necessidade de ser acolhido e valorizado pressupõe que o outro realmente saiba como a pessoa realmente é, ou seja, a compreenda.
Desta forma, o diálogo conjugal é fundamental para a compreensão mútua, a aceitação recíproca e assim, o amadurecimento do amor. Para que o diálogo seja fecundo, o mesmo precisa ser revestido de respeito e amor. O respeito leva a pessoa captar a grandeza do outro e o amor leva a se interessar e procurar se abrir para o outro.
Uma das características para que este diálogo seja proveitoso é que os cônjuges devem saber escutar.
“Escutar pacientemente, sabendo que temos sempre algo a aprender com o outro. Saber escutar é condição indispensável para o diálogo. Do contrário, não passará de um monólogo. A atitude de escutar é um respeito devido a quem nos fala.(...)Pessoas prepotentes excluem a possibilidade de um diálogo, pois ninguém gosta de conversar com quem sempre tem razão.”[4]
O ideal é que o casal dialogue sempre. Para garantir esse diálogo, recomenda-se, que pelo menos uma vez na semana, por um período de cerca de uma hora, o casal se reúna para dialogar. Deve ser um compromisso assumido pelos dois, marido e mulher, em prol de sua família, de seu relacionamento, para o cultivo do seu amor.
Portanto, o “deixar-se conhecer” é realizado através do diálogo conjugal que precisa ser bem cultivado pelo casal e assim caminharão mais seguramente no caminho da plena comunhão de vida e alcançarão a tão sonhada felicidade.




[1] “Diálogo em quatro dimensões”, TOALDO, Olindo e Marilene, pg. 37, Scala Gráfica e Editora, Atibaia/SP, 2003.
[2] “Matrimônio, vocação de amor”, Fernandez, Jaime, pgs. 33-35, impresso como manuscrito – 1989 – Movimento Apostólico de Schoenstatt, Santa Maria/RS
[3] “Diálogo em quatro dimensões”, TOALDO, Olindo e Marilene, pg. 56, Scala Gráfica e Editora, Atibaia/SP, 2003.
[4] “O dever de sentar-se. Diálogo Conjugal”, Equipes de Nossa Senhora, 2ª edição, Edições Paulinas, p.24-25 São Paulo, 1982
CRÉDITOS DAS FOTOS: PHOTOPIN.COM

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