Conhecidos
os temperamentos de cada cônjuge, o próximo passo para que se realize a união
dos dois é o “deixar-se conhecer”: marido e esposa precisam abrir-se ao outro,
revelar o que passa dentro de si, seus anseios, sonhos, necessidades, dúvidas,
enfim, o seu “ser”. Somente através do conhecimento profundo do outro é que a
união se torna possível.
O
conhecimento do outro só é possível através do diálogo. “Diálogo é o encontro pessoal e personalizante entre duas ou mais
pessoas.”[1]Assim,
para existir o diálogo é necessário que haja um encontro pessoal com o outro, ou seja, reservar um tempo para estar
com seu parceiro e então poderem estabelecer esta comunicação.
Para
haver realmente a comunicação aberta entre os cônjuges é necessária uma atitude
de profundo respeito pela personalidade do outro, uma vontade firme de buscar
este conhecimento e também de deixar-se conhecer, uma abertura ao outro, a
aceitá-lo como ele é, com suas capacidades e imperfeições, como obra-prima do
Criador.
Deve-se
ressaltar, porém, que esta abertura ao outro tem um certo limite, o chamado
“mistério da personalidade”.
“Em toda pessoa há uma riqueza
profunda que não pode ser esvaziada. Nós falamos do sacrário do coração,
sacrário da alma, aquele último cantinho que pertence somente a Deus. (...)
Mantenho, então, um mínimo de reserva, um mínimo de interioridade: não me
descrevo totalmente por dentro senão que deixo sempre algo que no fundo se
entrevê. (...) É aos poucos, por conseguinte, que descubro esta grandeza, algo
do que há de Deus no tu. Tenho que aprender a descobrir, a olhar o outro, o tu,
com o olhar de Deus à luz da fé. Assim, vou descobrindo cada vez algo mais
interessante e me vou enamorando cada vez mais. (...) Devemos ter cuidado com o
que um revela para o outro, seja na ordem da miséria ou da grandeza pessoal.
Podemos revelar só em parte; o mais íntimo e o mais profundo de minha oração e
de meu encontro com Deus, sempre permanecerá um mistério para o outro. (...) Há
coisas que pertencem à comunidade conjugal e coisas que são pessoais. O que é
conjugal, o que é da comunidade, deve se dizer sempre. Por exemplo, se há
problemas econômicos, o marido não irá inquietar a mulher com esses problemas,
porém informa-a de tal maneira, que ela saiba em quem carro está andando.
Todavia, há outras coisas que são estritamente pessoais, e o limite entre o
conjugal e o pessoal é diferente para cada pessoa e para cada casal.”[2]
Existe
uma grande diferença entre conversar e dialogar. Na conversa, as pessoas falam
de algo que não lhes dizem respeito diretamente e refere-se a fatos exteriores
que não as envolvem pessoalmente, transmitindo apenas informações, como, por
exemplo falar de outras pessoas, ou de acontecimentos gerais, sobre o clima,
etc.
No
diálogo, todavia, existe uma comunicação do que se passa no interior da pessoa,
o que ela sente, como ela pensa a respeito de determinado assunto, o que gosta
ou não gosta, quais são seus sonhos, alegrias, projetos, etc.[3]
Portanto,
na família deve se procurar sempre o diálogo como forma de conhecer o outro, de
saber o que pensa, como pensa, pois somente o diálogo pode proporcionar este
conhecimento. As conversas sempre existirão, porém, é aconselhável tentar
transformar as simples conversas em diálogos, extraindo da mera comunicação dos
fatos o que o interlocutor pensa a respeito dos mesmos.
Todos
possuem a necessidade de serem compreendidos e valorizados. A compreensão é uma
forma de aceitação do outro como ele é, com toda sua originalidade. E a
necessidade de ser acolhido e valorizado pressupõe que o outro realmente saiba
como a pessoa realmente é, ou seja, a compreenda.
Desta
forma, o diálogo conjugal é fundamental para a compreensão mútua, a aceitação
recíproca e assim, o amadurecimento do amor. Para que o diálogo seja fecundo, o
mesmo precisa ser revestido de respeito e amor. O respeito leva a pessoa captar
a grandeza do outro e o amor leva a se interessar e procurar se abrir para o
outro.
Uma
das características para que este diálogo seja proveitoso é que os cônjuges
devem saber escutar.
“Escutar pacientemente, sabendo que
temos sempre algo a aprender com o outro. Saber escutar é condição
indispensável para o diálogo. Do contrário, não passará de um monólogo. A
atitude de escutar é um respeito devido a quem nos fala.(...)Pessoas
prepotentes excluem a possibilidade de um diálogo, pois ninguém gosta de
conversar com quem sempre tem razão.”[4]
O
ideal é que o casal dialogue sempre. Para garantir esse diálogo, recomenda-se,
que pelo menos uma vez na semana, por um período de cerca de uma hora, o casal
se reúna para dialogar. Deve ser um compromisso assumido pelos dois, marido e
mulher, em prol de sua família, de seu relacionamento, para o cultivo do seu
amor.
Portanto,
o “deixar-se conhecer” é realizado através do diálogo conjugal que precisa ser
bem cultivado pelo casal e assim caminharão mais seguramente no caminho da
plena comunhão de vida e alcançarão a tão sonhada felicidade.
[1]
“Diálogo em quatro dimensões”, TOALDO, Olindo e Marilene, pg. 37, Scala Gráfica
e Editora, Atibaia/SP, 2003.
[2]
“Matrimônio, vocação de amor”, Fernandez, Jaime, pgs. 33-35, impresso como
manuscrito – 1989 – Movimento Apostólico de Schoenstatt, Santa Maria/RS
[3]
“Diálogo em quatro dimensões”, TOALDO, Olindo e Marilene, pg. 56, Scala Gráfica
e Editora, Atibaia/SP, 2003.
[4]
“O dever de sentar-se. Diálogo Conjugal”, Equipes de Nossa Senhora, 2ª edição,
Edições Paulinas, p.24-25 São Paulo, 1982
CRÉDITOS DAS FOTOS: PHOTOPIN.COM
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