terça-feira, 21 de outubro de 2014

PERDÃO

“Pedro aproximou-se de Jesus, e perguntou: ‘Senhor, quantas vezes devo perdoar, se meu irmão pecar contra mim? Até sete vezes?’ Jesus respondeu: ‘Não lhe digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete.”[1]
Este ensinamento de Jesus deve se incorporar profundamente na alma dos cônjuges, no seio da família. Quantas vezes se deve perdoar aqueles que os ofenderam, que os magoaram, que feriram seu amor próprio? A resposta é: quantas vezes forem necessárias, ou seja, sempre.
“Sem o exercício contínuo e atual do perdão, nenhum amor chega à oblatividade. Confiança e fidelidade são duas condições absolutas para o exercício do perdão.”[2]
Perdoar não é esquecer e nem fingir que não aconteceu nada. Perdoar é tomar a decisão de que aquela falta que o outro cometeu contra si não vai mais lhe incomodar. E para isso, a pessoa precisa ter a consciência de que também erra, de que também magoa e que precisa sempre do perdão do outro.
Quanto maior for a consciência de que se é um ser limitado, de que frequentemente comete erros, de que sempre precisa do perdão, principalmente de Deus, mais fácil será perdoar os erros do outro, principalmente os daqueles que convivem diariamente consigo.
Porém, perdoar não é uma atitude fácil, principalmente para certos temperamentos que tendem a guardar mágoa e ficar remoendo os acontecimentos. Dependendo do grau da ofensa, da profundidade da cicatriz deixada, o perdão pode demorar muito tempo para ser alcançado.
Não é preciso ter pressa. O que é urgente é decidir que irá perdoar e que aquela falta, aquela mágoa, não irá mais lhe aprisionar. Porque quem fica remoendo os fatos, revivendo os acontecimentos que feriram o seu coração, permanece escravo daquele que o ofendeu. Escravo porque não se liberta e não consegue viver sem pensar naquela ofensa.
O perdão liberta. Quando consegue perdoar, a pessoa se sente mais leve, mais feliz, gerando até um sentimento de compaixão por aquele que lhe ofendeu. Consegue também se libertar do passado, de ficar tentando modificar o que já aconteceu ou ficar imaginando como tudo seria se aquela ofensa não tivesse acontecido. Assim, pode viver muito melhor o seu presente, o dia de hoje, e ter esperança de um futuro mais feliz.
Deve-se sempre pedir a Deus, a graça do perdão. Aproximar-se do coração de Jesus, que tem um bálsamo eficaz para curar as feridas do seu coração. Sem a graça de Deus, não conseguirá perdoar, pois a sua natureza ferida pelo pecado original é orgulhosa e tende sempre a pensar em si mesma, em sua ferida, olhando os acontecimentos somente pelo seu ponto de vista, pela sua razão.
Muitas vezes a pessoa quem deve perdoar é a si próprio. Não é saudável ficar remoendo as falhas dos outros tanto quanto não é saudável ficar remoendo seus próprios erros. Todos são seres humanos limitados, imperfeitos e por mais que se esforcem, eventualmente cometerão erros. Nesta hora, o mais importante é levantar a cabeça, pedir perdão para quem magoou, pedir perdão a Deus, reconhecer esta limitação e seguir em frente, procurando sempre melhorar, amadurecer, aprendendo com os próprios erros.
O Sacramento da Reconciliação (Confissão) é um meio importantíssimo para conseguir o perdão, tanto de si mesmo, como perdoar os demais. É um sacramento de cura, que restaura a alma e traz a paz interior.
Apesar de ter sido instituído principalmente para reconciliar aquelas pessoas que cometeram pecados graves e por isso se afastaram da graça de Deus, a Confissão deve ser buscada também para cada um se aprimorar em sua caminhada, confessando seus pecados veniais (ou mais leves) e até suas imperfeições.
Quanto mais buscar este Sacramento, mais progredirá em seu aperfeiçoamento pessoal e assim, estará cada vez mais apto a perdoar aqueles que lhe ofenderam e a se fortalecer com suas próprias limitações.
O perdão é fundamental e precisa ser dado sempre e nas pequenas coisas, desde algo que o irrita e que a pessoa faz sem saber até as coisas que ela faz conscientemente para irritá-lo e magoá-lo. O perdão devolve o equilíbrio ao relacionamento. Perdoar é ver que nada pode ser maior do que a opção que fizeram de ficar juntos para sempre, pois tudo o mais passa e precisa ser deixado de lado.



[1] Mt 18,21-22
[2] “Famílias Restauradas”, Pe. Léo, scj., pg. 152, 11ª edição, Editora Canção Nova, São Paulo, 2005.
créditos das fotos: photopin

Nenhum comentário:

Postar um comentário