“Pedro aproximou-se de Jesus, e
perguntou: ‘Senhor, quantas vezes devo perdoar, se meu irmão pecar contra mim?
Até sete vezes?’ Jesus respondeu: ‘Não lhe digo que até sete vezes, mas até
setenta vezes sete.”[1]
Este
ensinamento de Jesus deve se incorporar profundamente na alma dos cônjuges, no
seio da família. Quantas vezes se deve perdoar aqueles que os ofenderam, que os
magoaram, que feriram seu amor próprio? A resposta é: quantas vezes forem
necessárias, ou seja, sempre.
“Sem o exercício contínuo e atual
do perdão, nenhum amor chega à oblatividade. Confiança e fidelidade são duas
condições absolutas para o exercício do perdão.”[2]
Perdoar
não é esquecer e nem fingir que não aconteceu nada. Perdoar é tomar a decisão
de que aquela falta que o outro cometeu contra si não vai mais lhe incomodar. E
para isso, a pessoa precisa ter a consciência de que também erra, de que também
magoa e que precisa sempre do perdão do outro.
Quanto
maior for a consciência de que se é um ser limitado, de que frequentemente
comete erros, de que sempre precisa do perdão, principalmente de Deus, mais
fácil será perdoar os erros do outro, principalmente os daqueles que convivem
diariamente consigo.
Porém,
perdoar não é uma atitude fácil, principalmente para certos temperamentos que
tendem a guardar mágoa e ficar remoendo os acontecimentos. Dependendo do grau
da ofensa, da profundidade da cicatriz deixada, o perdão pode demorar muito
tempo para ser alcançado.
Não
é preciso ter pressa. O que é urgente é decidir que irá perdoar e que aquela
falta, aquela mágoa, não irá mais lhe aprisionar. Porque quem fica remoendo os
fatos, revivendo os acontecimentos que feriram o seu coração, permanece escravo daquele que o ofendeu. Escravo
porque não se liberta e não consegue viver sem pensar naquela ofensa.
O
perdão liberta. Quando consegue perdoar, a pessoa se sente mais leve, mais
feliz, gerando até um sentimento de compaixão por aquele que lhe ofendeu.
Consegue também se libertar do passado, de ficar tentando modificar o que já
aconteceu ou ficar imaginando como tudo seria se aquela ofensa não tivesse
acontecido. Assim, pode viver muito melhor o seu presente, o dia de hoje, e ter
esperança de um futuro mais feliz.
Deve-se
sempre pedir a Deus, a graça do perdão. Aproximar-se do coração de Jesus, que
tem um bálsamo eficaz para curar as feridas do seu coração. Sem a graça de
Deus, não conseguirá perdoar, pois a sua natureza ferida pelo pecado original é
orgulhosa e tende sempre a pensar em si mesma, em sua ferida, olhando os
acontecimentos somente pelo seu ponto de vista, pela sua razão.
Muitas
vezes a pessoa quem deve perdoar é a si próprio. Não é saudável ficar remoendo
as falhas dos outros tanto quanto não é saudável ficar remoendo seus próprios
erros. Todos são seres humanos limitados, imperfeitos e por mais que se
esforcem, eventualmente cometerão erros. Nesta hora, o mais importante é
levantar a cabeça, pedir perdão para quem magoou, pedir perdão a Deus,
reconhecer esta limitação e seguir em frente, procurando sempre melhorar,
amadurecer, aprendendo com os próprios erros.
O
Sacramento da Reconciliação (Confissão) é um meio importantíssimo para
conseguir o perdão, tanto de si mesmo, como perdoar os demais. É um sacramento
de cura, que restaura a alma e traz a paz interior.
Apesar de
ter sido instituído principalmente para reconciliar aquelas pessoas que
cometeram pecados graves e por isso se afastaram da graça de Deus, a Confissão
deve ser buscada também para cada um se aprimorar em sua caminhada, confessando
seus pecados veniais (ou mais leves) e até suas imperfeições.
Quanto
mais buscar este Sacramento, mais progredirá em seu aperfeiçoamento pessoal e
assim, estará cada vez mais apto a perdoar aqueles que lhe ofenderam e a se
fortalecer com suas próprias limitações.
O perdão
é fundamental e precisa ser dado sempre e nas pequenas coisas, desde algo que o
irrita e que a pessoa faz sem saber até as coisas que ela faz conscientemente
para irritá-lo e magoá-lo. O perdão devolve o equilíbrio ao relacionamento.
Perdoar é ver que nada pode ser maior do que a opção que fizeram de ficar
juntos para sempre, pois tudo o mais passa e precisa ser deixado de lado.
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