terça-feira, 14 de outubro de 2014

O DIÁLOGO CONJUGAL

Hoje mais um post extraído das Reflexões do Pe. Nicolás Schweizer, No. 18, publicada em 01.09.2007.
Para começar, temos que distinguir entre conversar e dialogar. Todo matrimônio conversa, troca palavras. Mas isso não é ainda diálogo, porque não é intercâmbio do interior de cada um, se não que é um conversar sobre temas exteriores.

Dialogar significa dar-se um ao outro desde o mais íntimo que se tem.  É entrar em comunhão, é abrir o coração ao outro e mostrar-lhe quem sou por dentro, minhas angústias, minhas esperanças. Dialogar é intercâmbio de corações, é fusão de corações.

Não tenho dúvida que a falta ou a debilitação do diálogo conjugal é o maior problema que os matrimônios modernos enfrentam e é um câncer do matrimônio, porque o destrói por dentro.

Os problemas de saúde, os problemas habitacionais, os problemas econômicos, todos podem ser muito angustiantes, mas são externos. Ameaçam o amor, certamente, mas desde o exterior. Ao contrário, a falta de diálogo fere a raiz do amor, a essência do amor.

Porque o amor é comunhão, é doação e se verifica através do diálogo. E então a debilitação do diálogo traz necessariamente consigo a debilitação da ternura, da delicadeza, da compreensão, do respeito, de todas as coisas que implica o amor. É, no fundo, deixar de valorizar o cônjuge como pessoa, como destinatário principal do meu amor e começar a considerá-lo como “sócio”, como “co-gerente” da empresa familiar, etc. Mas o amor de sócios não basta para encher o coração de alguém que se decidiu pelo matrimônio.

Quais são as causas desta falta de diálogo?

1. Não temos tempo. Conspira contra um diálogo verdadeiro, o ritmo de vida que temos hoje em dia. Andamos tão apressados que não temos tempo. Porque não se pode abrir o coração em um minuto e meio. Para contar essas coisas profundas que se tem: preocupações, dores, desejos da alma, necessita-se tempo, preparar todo um ambiente, e as coisas saem aos poucos. Necessita-se tempo, mas não existe tempo.

E o pouco tempo que resta, muito provavelmente o devora esse aparelho, devorador de tempo e de diálogo, que é a televisão.

2. Perdeu-se o sentido do diálogo. Vivemos num mundo impessoal, num mundo que gira em torno às coisas, a famosa sociedade de consumo. Em realidade, todos falamos, sabemos falar melhor que nunca antes, mas falamos sempre de coisas. É uma conversação funcional, um diálogo utilitário, ou seja, falamos o necessário para que as coisas sigam funcionando, para que a maquinaria do lar siga marchando. E para que siga funcionando há que passar roupa, cozinhar, pagar as contas, ir ao colégio das crianças, comprar-lhes sapatos - e de todas essas coisas se conversa. Mas pouco ou nada se dialoga das cosas pessoais, íntimas.

E então realmente nos assombramos como Deus faz milagres. Porque existe uma série de matrimônios que estão juntos por milagre. Porque segundo todas as leis da psicologia deveriam estar separados, já que não dialogam há anos. O ser humano tem necessidade do intercâmbio interior e se não o consegue em sua casa, talvez o encontre fora do lar, por exemplo, com a secretária ou com o vizinho. E assim pode começar a destruição do matrimônio.

Entretanto, em muitos matrimônios isso não acontece, apesar de não dialogarem por anos. E então isso se explica só por um milagre de Deus que cuida que nenhum deles se encontre com ninguém que lhe ofereça um pouco mais que o cônjuge. Mas por parte dos casais, não dialogar durante tanto tempo é estar brincando com fogo, é passear a beira do precipício. É arriscar o amor, é romper o amor, é faltar á promessa de fazer feliz ao outro.

Uma comunidade de amor, uma comunidade de Aliança não pode existir, não pode crescer sem diálogo. O mesmo se dá com respeito a nossa Aliança com a Mãe de Deus. O mesmo com relação aos filhos.

Perguntas para a reflexão

1. Como está nosso diálogo?
2. Não temos tempo ou não nos fazemos de tempo?
3. Falamos de nós, de coisas, ou dos demais?

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