Hoje mais um post extraído das Reflexões do Pe. Nicolás Schweizer, No. 18, publicada em 01.09.2007.
Para começar, temos que distinguir entre conversar e dialogar. Todo
matrimônio conversa, troca palavras. Mas isso não é ainda diálogo, porque não é
intercâmbio do interior de cada um, se não que é um conversar sobre temas
exteriores.
Dialogar significa dar-se um ao outro desde
o mais íntimo que se tem. É entrar em
comunhão, é abrir o coração ao outro e mostrar-lhe quem sou por dentro, minhas
angústias, minhas esperanças. Dialogar é intercâmbio de corações, é fusão de
corações.
Não tenho dúvida que a falta ou a debilitação do diálogo conjugal
é o maior problema que os matrimônios modernos enfrentam e é um câncer do
matrimônio, porque o destrói por dentro.
Os problemas de saúde, os problemas habitacionais, os problemas
econômicos, todos podem ser muito angustiantes, mas são externos. Ameaçam o
amor, certamente, mas desde o exterior. Ao contrário, a falta de diálogo fere a
raiz do amor, a essência do amor.
Porque o amor é comunhão, é doação e se verifica através do
diálogo. E então a debilitação do diálogo traz necessariamente consigo a
debilitação da ternura, da delicadeza, da compreensão, do respeito, de todas as
coisas que implica o amor. É, no fundo, deixar de valorizar o cônjuge como
pessoa, como destinatário principal do meu amor e começar a considerá-lo como “sócio”, como “co-gerente” da empresa familiar, etc. Mas o amor de sócios não
basta para encher o coração de alguém que se decidiu pelo matrimônio.
Quais são as
causas desta falta de diálogo?
1. Não temos tempo. Conspira contra um diálogo verdadeiro, o ritmo de vida que temos hoje
em dia. Andamos tão apressados que não temos tempo. Porque não se pode abrir o
coração em um minuto e meio. Para contar essas coisas profundas que se tem:
preocupações, dores, desejos da alma, necessita-se tempo, preparar todo um ambiente,
e as coisas saem aos poucos. Necessita-se tempo, mas não existe tempo.
E o pouco tempo que resta, muito provavelmente o devora esse aparelho,
devorador de tempo e de diálogo, que é a televisão.
2. Perdeu-se o sentido do
diálogo. Vivemos num mundo impessoal, num
mundo que gira em torno às coisas, a famosa sociedade de consumo. Em realidade,
todos falamos, sabemos falar melhor que nunca antes, mas falamos sempre de
coisas. É uma conversação funcional, um diálogo utilitário, ou seja, falamos o
necessário para que as coisas sigam funcionando, para que a maquinaria do lar
siga marchando. E para que siga funcionando há que passar roupa, cozinhar,
pagar as contas, ir ao colégio das crianças, comprar-lhes sapatos - e de todas
essas coisas se conversa. Mas pouco ou nada se dialoga das cosas pessoais,
íntimas.
E então realmente nos assombramos como Deus faz milagres. Porque
existe uma série de matrimônios que estão juntos por milagre. Porque segundo
todas as leis da psicologia deveriam estar separados, já que não dialogam há
anos. O ser humano tem necessidade do intercâmbio interior e se não o consegue
em sua casa, talvez o encontre fora do lar, por exemplo, com a secretária ou
com o vizinho. E assim pode começar a destruição do matrimônio.
Entretanto, em muitos matrimônios isso não acontece, apesar de não
dialogarem por anos. E então isso se explica só por um milagre de Deus que
cuida que nenhum deles se encontre com ninguém que lhe ofereça um pouco mais
que o cônjuge. Mas por parte dos casais, não dialogar durante tanto tempo é
estar brincando com fogo, é passear a beira do precipício. É arriscar o amor, é
romper o amor, é faltar á promessa de fazer feliz ao outro.
Uma comunidade de amor, uma comunidade de Aliança não pode existir, não
pode crescer sem diálogo. O mesmo se dá com respeito a nossa Aliança com a Mãe
de Deus. O mesmo com relação aos filhos.
Perguntas para a reflexão
1. Como está nosso diálogo?
2. Não temos tempo ou não nos fazemos de tempo?
3. Falamos de nós, de coisas, ou dos demais?
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