sexta-feira, 10 de outubro de 2014

EDUCAÇÃO PARA O AMOR - PARTE 1



Toda pessoa nasce com o anseio de amar e ser amada, pois é imagem e semelhança de Deus, que é amor. Todavia, o primeiro instinto do amor é um amor primitivo, mais egoísta, que busca a própria satisfação. Assim, é dever dos pais ensinarem os filhos aos poucos a se desprenderem deste amor primitivo, para aprenderem a amar realmente, serem capazes de buscar a felicidade do próximo.

Para aprenderem a amar, os filhos precisam aprender a se sacrificar, a abrir mão dos próprios desejos e vontades para o bem do outro. Sacrifício significa também doação. “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos”[1].

Os filhos irão aprender aos poucos a se doarem, e consequentemente a amarem, na medida em que experimentam a doação que vem por parte dos pais. Doação de tempo, de atenção, de carinho, de cuidado.

“Sugiro a seguinte reflexão para nos localizar como anda o nosso amor: estou disposto a dar a minha vida por minha esposa, meus filhos, meus irmãos? A dar tempo, atenção, carinho, docilidade, a minha própria vontade, o próprio suor do trabalho, expressões do amor? A comida bem feita, a roupa passada, a fralda trocada é doação de tempo, de afeto, que expressa o amor, se são feitas sem murmurações. É assim que os pais aprendem a amar e é assim que os filhos vão aprendendo o amor através dos pais. Há um intercâmbio de amor. Os filhos fazem com que os pais saiam de si e se doem a eles, assim os pais aprendem o que é amor. Os filhos podem levar os pais à maturidade se os pais se abrirem verdadeiramente a essa tão nobre tarefa de educar. Em contrapartida, os filhos aprendem assim a fazer a experiência de doação que os pais praticam continuamente com eles, podendo assim retribuir aos pais, à família, à sociedade o amor que deles receberam. ‘Plante amor e nascerá amor’”.[2]

O amor nasce do cuidado, da doação. E para cuidar e se doar é necessário tempo. Os pais necessitam de tempo para cuidar dos filhos. Sem o tempo, não é possível estabelecer o vínculo entre pai e filho e sem este vínculo não há amor.

O tempo para cuidar dos filhos não necessariamente precisa ser medido em minutos ou horas. A quantidade de tempo é muito importante, principalmente quando a criança ainda é pequena e requer mais cuidados, porém a forma como se gasta este tempo com a criança é que é fundamental.

A mãe ou o pai podem passar o dia todo ao lado da criança sem necessariamente estarem com a criança. Por parte do filho, o tempo não é contado no relógio, mas é sentido no coração. O importante é dar uma atenção concentrada ao filho no momento em que ele precisa. É parar o que está fazendo e olhar nos olhos da criança para responder sua indagação. E se não for possível atende-la no momento solicitado, diga a ela que irá atender assim que possível.

Atenção concentrada significa estar naquele momento inteiramente disponível para o filho, não importando se forem apenas alguns minutos. Mas nestes poucos minutos, os pais irão deixar de lado as preocupações que trazem em seu coração, as coisas que tem por fazer, e se concentrarem no filho.

Cuidar dá trabalho, é cansativo, exige muita paciência. Mas a recompensa de educar um ser humano capaz de ser feliz, de fazer outros felizes e de realizar plenamente seu potencial é infinitamente maior que qualquer sacrifício feito pelos pais.

“Os pais precisam se lembrar que os filhos não pedem para nascer. Eles são desejados pelos pais e, quando um pai deseja um filho, tem de assumi-lo pelo resto da vida. Pai não tem sossego, pai não tem férias, mas pai tem felicidade. Talvez não tenha muito prazer, mas tem felicidade. Qual é a felicidade de um pai? Imaginar que construiu um bom ser humano.”[3]

É importantíssimo para os filhos vivenciarem que seus pais se amam. Os filhos são frutos deste amor dos cônjuges e quando presenciam gestos de carinho, atenção, dedicação entre seus pais, automaticamente também se sentem amados, sentem-se seguros e acolhidos. Por isso, os pais devem sempre cultivar seu amor, pois os filhos irão nutrir-se deste amor. 

“Quando o casal tem diante de si um filho, o amor já não mais é privilégio, é dever: o primeiro e mais sério dos deveres. Dois esposos não tem mais o direito de não se amar, mas sim de se amar cada vez mais e sempre melhor. Seu amor não mais lhe pertence, está alienado, devotado ao filho. Tanto é assim que, quando chegar a hora da grande prestação de contas, Deus os julgará primeiramente a respeito desse dever, o primeiro dentre os impostos pela Caridade e pela Justiça.(...)

A criança (...) tem necessidade de ver o amor de seus pais, sob pena de assistir ao perecimento da própria esperança; precisa comungar de seu recíproco afeto, sob pena de morrer de inanição, pois sem ele ser-lhe-á impossível alegrar-se. O amor do pai e da mãe, a fidelidade de ambos, a ternura, a cordialidade reinante entre os dois, a lucidez e a mútua generosidade, tudo isso é tão necessário para a alma da criança quanto o ar que respira é vital para seu corpo. Fora deste clima de amor, breve encontra a asfixia interior e o terrível caminho de uma vida que, em seus primeiros anos, nada conheceu além de recriminações, de amargura ou agressivos silêncios de apatia.”[4]

O pensamento de que se deve colocar sempre o filho em primeiro lugar, deixando para depois o cuidado com o cônjuge é equivocado. Certamente, muitas vezes o cuidado com o filho virá em primeiro lugar, principalmente na fase da infância. Todavia, deve haver um equilíbrio, já que é o amor dos pais que dará suporte para o desenvolvimento saudável do filho. A negligência no cuidado com o amor do cônjuge, em se preocupar que o amor conjugal se fortaleça e cresça sempre, afetará negativamente na educação para o amor dos filhos.

“Quer ver seu filho feliz, quer ter um lar equilibrado e sadio? Então, ame seu cônjuge! Ame seu marido com amor próprio de mulher, e sua esposa com amor próprio de homem, assumindo cada um sua identidade e responsabilidade própria na família e na educação dos filhos, sem inversão ou confusão de papéis. Não perca tempo, trabalhe, pois há uma graça específica que faz com que seu casamento dê muitos frutos, e são frutos grandes, suculentos, que todos poderão saborear e se deliciar!”[5]


[1] Jo 15,13
[2] Lauro e Rosana Vitachi, Consagrados na Comunidade Católica Pantokrator, in  http://pantokrator.org.br/pt/educar-para-o-amor/
[3] “Diálogos sobre a afetividade”, CAPELATO, Ivan Pg. 112, Editora Papirus, 2ª edição, Campinas/SP 2008
[4]“Obras do Padre Charbonneau – O sentido cristão do casamento – Volume II”, CHARBONNEAU, Paul-Eugène, CSC, pg. 198-199, edição da Codil – Companhia Distribuidora de Livros, São Paulo, 1968
[5] Lauro e Rosana Vitachi, Consagrados na Comunidade Católica Pantokrator, in  http://pantokrator.org.br/pt/educar-para-o-amor/

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