quarta-feira, 8 de outubro de 2014

EDUCAÇÃO PARA LIBERDADE E AUTONOMIA - PARTE 1

O maior presente que Deus deu ao ser humano após chamá-lo à vida foi a liberdade, o livre-arbítrio. É por ser livre que o homem pode escolher se deseja ou não trilhar o caminho de volta à casa do Pai, se opta ou não por amá-Lo e servi-Lo. Sem a liberdade não haveria o amor, pois só pode amar quem é realmente livre. 
“A liberdade verdadeira é um sinal privilegiado da imagem divina no homem. Pois Deus quis ‘deixar o homem entregue à sua própria decisão’, para que busque por si mesmo o seu Criador e livremente chegue à total e beatífica perfeição, aderindo a Ele.”[1]
Por isso, o anseio pela liberdade e pela autonomia é inerente ao ser humano, sendo motivo, inclusive, de muitas guerras e revoltas, pois o homem quer “ser livre, autônomo”. Porém, o conceito de liberdade muitas vezes é confundido com o de “fazer o que quiser, na hora que quiser e como quiser”, sem importar as implicações, o que traz muitas vezes o contrário da liberdade, que é a escravidão.
“‘Posso fazer tudo o que quero’. Sim, mas nem tudo me convém. ‘Posso fazer tudo o que quero’, mas não deixarei que nada me escravize.”[2] “A escolha da desobediência e do mal é um abuso de liberdade e conduz à ‘escravidão do pecado’”.[3]
As pessoas que, em nome da liberdade e da autonomia, não controlam seus instintos, deixando-os agir “livremente” acabam justamente escravos destes mesmos instintos, de suas paixões e “vontades”.
Por exemplo, uma pessoa que escolhe “livremente” fumar, em determinado momento não consegue mais parar, pois seu organismo ficou viciado na nicotina, assim, aquele que no início era livre para escolher ou não fumar, passou a ser escravo do cigarro. Conclui-se então que, quem faz um mal uso da liberdade, acaba perdendo-a.
“A liberdade foi dada ao homem pelo Criador simultaneamente como dom e tarefa; com efeito, por meio da liberdade, o homem é chamado a acolher e a realizar o bem na sua verdade: escolhendo e exercendo um bem verdadeiro na vida pessoal e familiar, na realidade econômica e política, nos âmbitos nacional e internacional, o homem exerce a sua própria liberdade na verdade.” [4]
“A liberdade é o poder, baseado na razão e na vontade, de agir ou não agir, de fazer isto ou aquilo, portanto de praticar atos deliberados. Pelo livre-arbítrio, cada qual dispõe sobre si mesmo. A liberdade é, no homem, uma força de crescimento e amadurecimento na verdade e na bondade. A liberdade alcança sua perfeição quando está ordenada para Deus, nossa bem-aventurança.”[5]
A verdadeira liberdade consiste em optar pelo bem, por aquilo que trará consequências boas para o indivíduo e para toda a coletividade, e ter a força e determinação para conseguir agir de acordo com a sua decisão.
“Quanto mais pratica o bem, mais a pessoa se torna livre. Não há verdadeira liberdade a não ser a serviço do bem e da justiça.”[6]
Outra característica da liberdade é a responsabilidade pelos atos. A pessoa que escolhe livremente fazer algo deve responsabilizar-se pelas consequências deste ato. Da mesma forma, os pais devem ensinar os filhos a se responsabilizarem pelas escolhas feitas e não “poupar” os filhos das consequências dos próprios atos.
Um filho que não estudou o ano inteiro deve arcar com a consequência de não passar de ano. Os pais não devem se desesperar para tentar fazer o filho passar de ano de qualquer maneira. Ele tem que se responsabilizar pela escolha feita.
Se a criança sabe que precisa arrumar seu material diariamente para ir a escola e não o faz direito, esquecendo, por exemplo, um livro em casa, os pais não devem levar o livro depois para a escola. Ela tem que sofrer o resultado de sua displicência, caso contrário, ao invés de aprender a ser responsável, terá a falsa ideia de que os pais poderão resolver sempre todos os problemas de sua vida, tendo muita dificuldade para amadurecer.
 “A liberdade torna o homem responsável por seus atos, na medida em que forem voluntários. O progresso na virtude, o conhecimento do bem e a ascese aumentam o domínio da vontade sobre seus atos.”[7]
O conceito de autonomia, como a “faculdade de se governar por si mesmo”[8], completa o de liberdade, pois para ser realmente livre, a pessoa precisa ter a capacidade de se autogovernar, ou seja, de ser verdadeiro mestre de suas ações e não agir impulsionado por estímulos externos ou internos.
 Desta forma, educar para a autonomia e a liberdade significa ajudar o filho a desenvolver a capacidade de tomar decisões de acordo com valores e princípios próprios e ter a capacidade de agir conforme estas decisões.



[1] Carta Encíclica de João Paulo II, “Veritatis Splendor”. No. 34
[2] 1Cor 6,12
[3] CIC 1733
[4] “Memória e Identidade”, João Paulo II, Capítulo 8
[5] CIC 1731
[6] idem
[7] CIC 1734
[8]  Mini Aurélio, 7ª edição, pg. 155, editora Positivo, Curitiba, 2008

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