O maior presente que Deus deu ao ser humano após chamá-lo à vida foi a
liberdade, o livre-arbítrio. É por ser livre que o homem pode escolher se
deseja ou não trilhar o caminho de volta à casa do Pai, se opta ou não por
amá-Lo e servi-Lo. Sem a liberdade não haveria o amor, pois só pode amar quem é
realmente livre.
“A liberdade verdadeira é um sinal
privilegiado da imagem divina no homem. Pois Deus quis ‘deixar o homem entregue
à sua própria decisão’, para que busque por si mesmo o seu Criador e livremente
chegue à total e beatífica perfeição, aderindo a Ele.”[1]
Por isso, o anseio pela liberdade e pela autonomia é inerente ao ser
humano, sendo motivo, inclusive, de muitas guerras e revoltas, pois o homem
quer “ser livre, autônomo”. Porém, o conceito de liberdade muitas vezes é
confundido com o de “fazer o que quiser, na hora que quiser e como quiser”, sem
importar as implicações, o que traz muitas vezes o contrário da liberdade, que
é a escravidão.
“‘Posso fazer tudo o que quero’. Sim,
mas nem tudo me convém. ‘Posso fazer tudo o que quero’, mas não deixarei que
nada me escravize.”[2] “A escolha da
desobediência e do mal é um abuso de liberdade e conduz à ‘escravidão do
pecado’”.[3]
As pessoas que, em nome da liberdade e da autonomia, não controlam seus
instintos, deixando-os agir “livremente” acabam justamente escravos destes
mesmos instintos, de suas paixões e “vontades”.
Por exemplo, uma pessoa que escolhe “livremente” fumar, em determinado
momento não consegue mais parar, pois seu organismo ficou viciado na nicotina,
assim, aquele que no início era livre para escolher ou não fumar, passou a ser
escravo do cigarro. Conclui-se então que, quem faz um mal uso da liberdade,
acaba perdendo-a.
“A liberdade foi dada ao homem pelo
Criador simultaneamente como dom e tarefa; com efeito, por meio da liberdade, o
homem é chamado a acolher e a realizar o bem na sua verdade: escolhendo e
exercendo um bem verdadeiro na vida pessoal e familiar, na realidade econômica
e política, nos âmbitos nacional e internacional, o homem exerce a sua própria
liberdade na verdade.” [4]
“A liberdade é o poder, baseado na
razão e na vontade, de agir ou não agir, de fazer isto ou aquilo, portanto de
praticar atos deliberados. Pelo livre-arbítrio, cada qual dispõe sobre si
mesmo. A liberdade é, no homem, uma força de crescimento e amadurecimento na
verdade e na bondade. A liberdade alcança sua perfeição quando está ordenada
para Deus, nossa bem-aventurança.”[5]
A verdadeira liberdade consiste em optar pelo bem, por aquilo que trará consequências boas para o indivíduo e
para toda a coletividade, e ter a força e determinação para conseguir agir de
acordo com a sua decisão.
“Quanto mais pratica o bem, mais a
pessoa se torna livre. Não há verdadeira liberdade a não ser a serviço do bem e
da justiça.”[6]
Outra característica da liberdade é a responsabilidade pelos atos. A
pessoa que escolhe livremente fazer algo deve responsabilizar-se pelas
consequências deste ato. Da mesma forma, os pais devem ensinar os filhos a se
responsabilizarem pelas escolhas feitas e não “poupar” os filhos das
consequências dos próprios atos.
Um filho que não estudou o ano inteiro deve arcar com a consequência de
não passar de ano. Os pais não devem se desesperar para tentar fazer o filho
passar de ano de qualquer maneira. Ele tem que se responsabilizar pela escolha
feita.
Se a criança sabe que precisa arrumar seu material diariamente para ir a
escola e não o faz direito, esquecendo, por exemplo, um livro em casa, os pais
não devem levar o livro depois para a escola. Ela tem que sofrer o resultado de
sua displicência, caso contrário, ao invés de aprender a ser responsável, terá
a falsa ideia de que os pais poderão resolver sempre todos os problemas de sua
vida, tendo muita dificuldade para amadurecer.
“A liberdade torna o homem responsável por seus atos, na medida em
que forem voluntários. O progresso na virtude, o conhecimento do bem e a ascese
aumentam o domínio da vontade sobre seus atos.”[7]
O conceito de autonomia, como a “faculdade
de se governar por si mesmo”[8],
completa o de liberdade, pois para ser realmente livre, a pessoa precisa ter a
capacidade de se autogovernar, ou seja, de ser verdadeiro mestre de suas ações
e não agir impulsionado por estímulos externos ou internos.
Desta forma, educar para a
autonomia e a liberdade significa ajudar o filho a desenvolver a capacidade de
tomar decisões de acordo com valores e princípios próprios e ter a capacidade
de agir conforme estas decisões.
Nenhum comentário:
Postar um comentário