quinta-feira, 2 de outubro de 2014

A CONSTRUÇÃO DA AUTOESTIMA

Este post foi baseado no livro: "A auto-estima do seu filho”, BRIGGS, Dorothy Corkille, 2ª edição, pg. 4, Editora Martins Fontes, São Paulo 2000.
A autoestima é “a maneira pela qual uma pessoa se sente em relação a si mesma. É o juízo geral que faz de si mesma – o quanto gosta de sua própria pessoa.”[1]
Toda pessoa nasce com a autoestima em sua plenitude, ou seja, a consciência que tem de si mesmo, o quanto aprecia a sua pessoa, é totalmente positivo. O bebe recém-nascido, com sua capacidade cognitiva em pleno desenvolvimento, instintivamente se sente bem consigo mesmo, acredita plenamente ser merecedor de tudo o que seja bom para ele.

Esta autoestima, porém, dependendo de como o bebê é tratado, com o tempo pode diminuir ou se manter sempre positiva. A autoestima diminui se o estímulo que recebe daqueles que são responsáveis pelos seus cuidados não correspondem as suas necessidades físicas e psicológicas, gerando a sensação de que não é importante, de que não deve ser merecedor daqueles cuidados.

Veja um exemplo, referente a um bebê fictício chamado Paulo: “A mãe aproveita sempre a hora da amamentação para ler. Seus braços o sustentam frouxa e indiferentemente. A atenção não se volta para o menino, mas para o livro. Se Paulo balbucia, ela não toma conhecimento. Quando ele se movimenta, os braços da mãe não colaboram. Se ele agarra a blusa dela, a mãe o faz soltar sem sequer olhar para ele. Paulo e a mãe não estão partilhando uma experiência. Na verdade, não há um encontro terno, humano, direto de pessoa para pessoa. A mãe é todo o mundo de Paulo naquele momento e suas primeiras experiências ensinaram-lhe que não merece atenção. Para ele o mundo é um lugar frio no qual tem pouca importância.”

Os filhos veem o mundo através de seus pais. Os pais são verdadeiros espelhos pelos quais a criança enxerga a si mesma e o mundo que a rodeia. Se os pais valorizam a criança, ela sentirá que é importante, que tem seu valor e que merece amar e ser amada. Porém, se recebe muitos julgamentos negativos, acreditará que é realmente uma pessoa ruim, que não merece ser feliz. “As crianças valorizam a si mesmas na medida em que foram valorizadas.”

Portanto, o primeiro passo na construção da autoestima, ou melhor dizendo, na manutenção da autoestima da criança, é valorizá-la pelo que ela é, em primeiro lugar, um filho de Deus, um ser humano único e irrepetível, que foi designado a seus pais, para que estes a nutram e eduquem para ser uma pessoa plenamente realizada e feliz.

Esta valorização da criança é percebida por ela muito mais através das atitudes do que das palavras. Não basta dizer que ama, é preciso demonstrar por gestos e por ações este amor. E isso não significa aprovar tudo que a criança faz, muito pelo contrário, a criança se sente amada, cuidada, quando são impostos limites ao seu comportamento.

Para que a criança consiga se sentir realmente valorizada e amada é necessário que os pais separem a atitude dela, o que ela fez de certo ou de errado, de sua pessoa. Assim, ao julgar um comportamento, deve-se sempre destacar que este foi errado e não que a criança é boa ou má. Por exemplo: se o pai avisa a criança que ela não pode mexer em determinado objeto e ela mesmo assim desobedece e mexe onde não podia. O pai não deve dizer: “Você é muito desobediente e agora está de castigo!”. A frase mais adequada seria: “ Eu não gostei da sua atitude. Agora a consequência desta escolha que você fez em desobedecer será o castigo.”

Desta forma, a integridade da pessoa, a visão que a criança tem de si mesma permanece intacta, e a desaprovação do pai não é em relação à criança, mas à atitude dela que foi errada.

Mesmo julgamentos positivos da pessoa, ao invés de sua atitude, podem prejudicar a autoestima da criança, pois ela irá relacionar que só é boa porque fez determinada coisa boa. Logo, deve evitar-se dizer: “Você é um bom menino!” quando, por exemplo, a criança, divide um brinquedo com o amiguinho. O ideal é sempre elogiar, mas a atitude e não diretamente a criança: “Eu gostei muito da sua atitude de dividir seu brinquedo. Parabéns!”

“Sempre que o valor pessoal depende do desempenho, fica sujeito a ser cancelado por qualquer erro.”[2]

Ao invés de julgar a criança pelo que ela fez, usando expressões do tipo: “você é” (bobo, desobediente, mal educado, mentiroso, bondoso, cuidadoso, etc.) o correto é julgar a atitude de acordo como os pais estão se sentindo em relação a este comportamento, sempre colocando a expressão “eu” (não gosto disso, não posso confiar no que você diz, fico magoado com este comportamento, tenho medo de acontecer algo, etc.).

Desta forma, a criança aprende que ela é sempre boa, sempre merecedora do amor e carinho dos pais, porém algumas vezes precisa sofrer as implicações de seu comportamento se sua atitude não corresponde às expectativas, se escolhe agir de uma maneira que não está de acordo com o que se espera dela.
Mais um passo importante para a autoestima do filho é a empatia, ou seja, “ser compreendido de acordo com o nosso ponto de vista”[3],mesmo que os fatos demonstrem coisas distintas, ou que o interlocutor não concorde com este ponto de vista.
Demonstrar empatia para a pessoa significa provar a ela que entende seu ponto de vista, não pretendendo impor a própria visão sobre o acontecimento, nem explicá-lo pela lógica. Por exemplo, se a criança ouve um barulho muito alto de avião e começa a chorar de medo, a mãe pode explicar: “não precisa ter medo, pois foi apenas um avião”. Esta tentativa de tranquilizar a criança está na verdade insinuando que a criança não tem o direito de sentir medo e a criança não se sente compreendida, pois efetivamente está com medo. Desta forma, a reação empática da mãe seria dizer: “Nossa, foi realmente um barulho terrível!” e a criança sente que foi compreendida, que a mãe está com ela e sabe como se sente. Então, depois de compreendido o sentimento, a mãe poderia explicar a origem do barulho e a criança conseguiria entender melhor o que aconteceu.
“Quando você é empático, não procura mudar os sentimentos da criança. Simplesmente tenta aprender como ela sente a parte do elefante, por assim dizer. Você não procura ver porque ela sente desta maneira, apenas tenta perceber todas as nuances de seus sentimentos naquele momento. Você consegue ver como a criança vê, sentir como a criança sente.”

Independentemente da idade do filho, é sempre aconselhável trabalhar na construção da sua autoestima, pois os pais só conseguirão educar realmente, desenvolver o que de melhor o filho possui, se o próprio filho conseguir se valorizar, conseguir enxergar que é uma pessoa única, que tem uma missão importantíssima a cumprir neste mundo. Certamente o quanto antes o filho se sentir realmente valorizado e amado é melhor, porém nunca é tarde para começar. 
“Viver com seu filho, de modo que ele se sinta profunda e tranquilamente satisfeito de ser quem é, significa dar a ele um legado sem preço: a força para enfrentar as tensões, a coragem para tornar-se uma pessoa dedicada, responsável, produtiva e criativa – alguém plenamente humano. E então o investimento pessoal que você aplicou em amor, tempo, energia e dinheiro, frutificará interminavelmente no tempo. Ajudar seu filho a gostar de si mesmo é o maior presente que você pode lhe dar. É manifestar A-M-O-R da maneira mais profunda.”[4]


[1] “A auto-estima do seu filho”, BRIGGS, Dorothy Corkille, 2ª edição, pg. 4, Editora Martins Fontes, São Paulo 2000
 [2] Idem, pg. 84
[3] Idem pg. 102
[4] Idem pg. 200-201

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